Caros Tripulantes, com a chegada do inverno e em pleno solstício, que se dá quando o Sol, nosso Astro Rei, passa a incidir com maior intensidade no hemisfério Norte em razão da inclinação do Globo Terrestre de 23.5 graus aliados aos movimentos de rotação e translação , por consequência trás os dias mais curtos e as noites mais longas, sem contar aquele friozinho característico da estação, planejamos, eu e minha Almiranta, Maria de Los Angeles uma velejada até a Ilha Anchieta e Saco da Ribeira.
Então, sábado 7 h. já estávamos embarcados no Lampejo, iniciando toda a arrumação, tralha, rancho (comida/bebida), gelo, 'etcteras' ...
Aliás, o 'rancho' é um capítulo à parte, já que a Maria preparou comida para invernar e não para um fim de semana apenas.....
Barco pronto, zarpamos com Vela Mestra em cima e Yanmar ligado, bote no convés, uma pequena brisa, céu absolutamente azul, um Sol maravilhoso. E assim fomos saindo vagarosamente da nossa enseada com destino Ilha Anchieta.
Motoramos por uns 50 minutos, passando a Ponta Grossa , já avistando a Ilha Anchieta ao longe, cuja distância naquele momento era de 6 MN. O vento apareceu, desligamos o motor e claro, iniciamos uma velejada preguiçosa e tranquila. O vento era 'na cara' então bordejávamos e nos afastávamos dos inúmeros pesqueiros e suas redes.
A Maria ficou no leme boa parte da travessia e não fez feio. Ela conhece todos os conceitos e manobras básicas e posso afirmar que conhece mais do 'assunto' que muito marinheiro!!!
Tivemos que ligar o motor novamente, porque o vento miou de vez....e já que estávamos motorando, passamos pela Ilha Anchieta e fomos direto ao Saco da Ribeira onde estava o Christian e seu novo brinquedo, SAFO, futuramente, BACO, um Multichine 28. Nos falamos pelo rádio VHF e jogamos 'ferro' ao seu lado para um breve bate papo , 'molhando a palavra' com algumas cervejinhas...
Ele veio conhecer o Lampejo, ficamos num agradável papo de popa e depois zarpamos novamente para velejar/motorar até a Anchieta, local escolhido para pernoitar.
Chegamos ao nosso destino, passando por diversos veleiros colorindo o azul do mar, jogamos ferro defronte o outrora 'Presídio Anchieta', hoje sede do Parque Anchieta, porém, em razão da pandemia, não pudemos descer...eu já estive lá algumas vezes, mas a Maria ainda não conhece. Fica prá próxima vez.... jantamos uns 'enrolados', dei uma cachimbada, e desfrutamos daquela paz.
Noite tranquila, balançando um pouquinho mais que o normal, a previsão era de algum vento para tarde, o que se confirmou, nos permitindo uma bela velejada.
Passamos pelo Boqueirão na vela, Saco da Ribeira, Enseada de Fortaleza, Ilhote do Sul, e nesse vai e vem ficamos, até retornar à Ilha Anchieta para um segundo pernoite. A ideia era ir para o Flamengo, mas tava cheio de embarcações, inviabilizando qualquer fundeio.
Um dos raros momentos que peguei no leme....
Foi uma baita velejada com ventos de 10/12 nós de SE , barco adernado, Maria divertiu-se e prá minha surpresa, não teve medo. E eu, nem precisa dizer.....
Fim da tarde nos dirigimos novamente ao mesmo local onde fundeamos com 5 metros de profundidade, jogando 11 metros de corrente mais 15 metros de cabo. Unhou super bem e dormimos tranquilos, dessa vez sem balanço.
Segunda cedo, dia de voltar ao nosso quintal encantado, Itaguá, apareceu uma brisa, um 'terral' e decidimos 'suspender' por volta de 10.30 h. e iniciar nossa volta.
'Despacito', fomos deixando a Ilha Anchieta rumo Itaguá, com o rumo magnético 60 graus na agulha.
De repente, um susto: o parafuso que prende a trava que liga a escota da Mestra na retranca se soltou e ficou por não mais que 1 cm para cair. Se fosse durante a velejada de domingo, já pensou?? Poderia até arrebentar os brandais, pois a retranca iria se soltar com violência. às vezes nossa vida depende de uma pecinha, um parafuso, uma cupilha....Isso é 'barco parado', sem uso. Foi só colocar outro parafuso e resolveu.
No través das Toninhas, merrecou o vento e azeitou o mar. Terminamos a travessia com vento de porão mesmo!! Nosso bravo Yanmar nos levou em segurança prá casa, onde chegamos 2;15 após suspender o ferro.
Chegamos na poita 12:30 h. Maria desembarcou e eu fiquei para mais um pernoite, para no dia seguinte arrumar tudo e deixar o Lampejo em ordem.
Verifiquei um vazamento de água nas conexões de mangueira do pressurizador. Gastei quase o dia todo fazendo testes com o tanque inox, fecha aqui, libera lá e cheguei à conclusão que o problema era esse. Soltei as conexões e recoloquei com teflon. Vamos ver se acho água no porão de novo....
De quebra, ganhei esse 'crepúsculo dos Deuses'. Cachimbei, comi, deitei e dormi. Noite absolutamente calma, pela manhã terminei a arrumação e por volta de 13 h. estava em casa já pensando na próxima velejada....Navegamos 40 milhas náuticas.
E, num Lampejo, voltaremos!!!