Caros tripulantes: Essa era a previsão de tempo que preocupou a galera da Vela, pescadores, escunas de passeio, enfim todo aquele que se aventura no mar. Formou-se no Sul do país um Ciclone que se somou a uma frente fria bem rigorosa mais um alinhamento da terra, sol e lua, cujas atrações gravitacionais se somam nessa circunstância causando ventos fortes e mar bravo até com avisos da Marinha pedindo que embarcações evitassem sair nesses dias.
Eu que não sou bobo resolvi sofrer a bordo com o Lampejo na poita, pois sabia que em casa não dormiria em paz.... só que não imaginava que fosse tão forte a ponto de não conseguir dormir nada nas duas noites e três dias que fiquei a bordo. Cheguei a colocar uma segunda âncora de reserva caso o cabo/ferragem da poita não aguentasse.
Na terça à tarde fui para o barco com o bote laranja mas tive que ir pela praia no canto do rio Acaraú já que a maré estava batendo na mureta de tão alta (em razão do alinhamento dos planetas) e na prainha da fábrica de gelo não conseguiria descer o bote. Aí sair com o bote com ondas de frente é sempre uma aventura, mas consegui apesar do motor ir falhando não sei porque razão. Já cheguei no Lampejo molhado.
Outra medida importante é que retirei toda a capa do barco e coloquei o motor Mercury no suporte de popa e o bote sobre o convés. Apesar da faina, resguardo o equipamento que ficaria batendo e judiando do conjunto.
Dormir a bordo sempre trás imagens legais apesar do frio e mau tempo. O vento era NW ou seja, vinha do continente, muito raro em Ubatuba, mas causando desconforto e apreensão já que o cabo da poita esticava feito elástico dando trancos no barco que chicoteava na poita sem parar. Os ventos eram de 20 nós constantes e rajadas de até 40 nós. A noite foi, o dia veio e nada de melhorar. Alguns velejadores também pernoitaram a bordo de suas embarcações. E assim foram os 3 dias e 2 noites que fiquei a bordo.
Assim seguia a vida a bordo. Café, cachimbo, vento forte, ondas vindas da praia, centenas de gaivotas bem próximo dos barcos (sinal de mau tempo) nas poitas e noites sem dormir...
Conclusão: passei 3 dias e 2 noites a bordo, com o barco serpentando na poita, rangendo, adernando, mas pelo menos eu estava lá caso algo pior ocorresse. Pois se o cabo da poita não aguentasse, com aquele vento e distante 550 metros da encosta cheia de lajes e pedras, em minutos o barco estaria perdido. Deixei a âncora de proa 'no jeito' e como disse acima, outra preparada no cockpit. Ainda me restava a possibilidade de ligar o motor e sair motorando caso tudo desse errado mas seria só no desespero. Já pensou sair motorando com dois cabos/correntes de âncora arrastando?? Sinistro!!Nada disso aconteceu. Meus cunhos e conjunto de poita aguentaram bem!!
E, num Lampejo voltaremos!!