Caros tripulantes: A Marinha do Brasil soltou alerta de Mau tempo e um Ciclone que se aproximava e mudaria as condições de vento e mar no litoral de Santa Catarina até Cabo Frio no RJ. Vários canais também indicavam essa situação, o que fez que eu fosse pernoitar a bordo, o que sempre faço quando esse tipo de fenômeno ocorre. Tenho prá mim que isso que diferencia um 'dono de barco' de um Comandante de sua embarcação. Lá fui eu, com um 'rancho' prá ficar um mês a bordo, feito pela Maria. Fui de taxiboat com o Gian que também iria pernoitar a bordo, para que meu bote não ficasse chicoteando pela popa.Quem apareceu também foi o Bob do veleiro MUTUM para pernoitar a bordo. Fui também no sacrifício, já que minhas costas e lombar estavam doendo demais já há duas semanas, na base do anti-inflamatório.... mas fui.
Cheguei no Lampejo por volta de 11h. e já comecei retirando a capa que cobre o casario. Passei mais alguns elásticos sobre o painel sola, 'jus in case'. Como a previsão era de muito vento, preparei também uma segunda âncora sobre o cockpit, caso o barco se soltasse da poita, já que é mais fácil eu lançar de lá e mais rápido também!! Óbvio que a extremidade da amarra deixei passada por fora do guarda-mancebo, amarrada a um cunho de proa. Deixei também a âncora de proa pronta e essa seria a minha segunda ação em caso de necessidade extrema. Como cautela, passei um cabo pela poita e amarrei em volta do mastro.
O dia estava bonito, céu azul, frio, mas o mar já dava sinais de mudança. Liguei o Yanmar e deixei funcionando por uns 30 minutos. Aí foi esperar o monstro chegar. Foram várias situações que fizeram com que houvesse toda essa preocupação, pois somaram-se a maré de sizígia de lua cheia, mais a maré meteorológica com ventos muito fortes fazendo o mar crescer mais ainda.O barômetro caiu substancialmente, claro indicativo de que vinha coisa por aí.
Se o final de tarde foi até bonito, ao escurecer começaram as rajadas e notícias de ocorridos em Itajaí, com diversos naufrágios, Paraná, Ilhabela e Ubatuba. O vento era W e forte com rajadas chegando a 40 nós. Consegui medir com o anemômetro 26 nós. O barco cavalgava pequenas ondas de até 1 metro vindas do continente, da praia mesmo, dando uns estirões no cabo de poita que faziam o Lampejo ranger todo. Chegava a adernar. Nos grupos de whatsapp todos querendo saber se seus barcos estavam bem. Os 'donos de barcos' que falei acima. Muitos deles moradores de Ubatuba......
E a noite foi passando, dormir era impossível, apesar do sono, toda hora uma rajada fazia sair da cabine, muitos borrifos de água salgada na cara, mas poita e barco aguentaram bem. Por volta de 4 h. da madrugada deu uma amainada no vento e a situação começou a acalmar. O vento aumentou até uns 15 nós mas as rajadas diminuíram.
O barômetro voltou a subir indicando uma melhora, o sol apareceu entre nuvens de garoa intensa sobre o contnente o que nos permitiu ver esse lindo arco-íris sobre nossa querida Itaguá.
Nenhum barco escapou da poita durante a noite e isso foi ótimo. Nada mais triste do que ver barco nas pedras.... O Gian veio me buscar e fui prá casa descansar.Tomei banho, almocei e fui dormir. Até que 15:30h toca o celular avisando que um barco escapara de sua poita. Lá fui eu ver o que acontecera. Era o Acqua um Paturi 16' do Gian cujo cabo de poita estourou. Lá fomos nós buscar o fujão já a caminho do mar aberto. Já pensou se fosse à noite? De bote não iria dar.
Resultado, barco amarrado a outra poita em segurança. Sensação de alívio geral. Fosse à noite só muita sorte para recuperá-lo. Voltei prá casa molhado já que caía uma garoa forte, mais um banho quente e cama!! Por todo o Litoral muitos acidentes e sinistros ocorreram, mesmo em terra. A Natureza se vinga.....
E, num Lampejo voltaremos!!