Caros Tripulantes, domingo cedo, 27/setembro, fui ao Lampejo para levá-lo ao Saco da Ribeira para realizar uma revisão geral do motor com o Anselmo/Juliano. Fui 'solo', já que demoraria alguns dias.E ao abrir a capa da vela mestra, me deparo com um ninho de andorinha que estava prestes a receber hóspedes. Felizmente, foi antes disso. Mas a natureza se ajeita...
Zarpei do Itaguá motorando com mestra em cima até a Ponta Grossa e logo desliguei o Yanmar e com a Mestra rizada na primeira forra, e Genoa toda aberta, fui numa velejada gostosa até a Ilha Anchieta onde resolvi pernoitar. Decisão errada, já que havia previsão de ventos fortes com rajadas.
Na Anchieta, fundeei a 0,2 MN da linha d'água, longe o suficiente de qualquer enrosco. Preparei a comida, um risoto de frutos do mar que a Maria me mandou, comi tudo e tomei umas latinhas de cerveja. O sol se pôs a Oeste e depois de um dia lindo, uma noite de lua clareando tudo. Por volta de 23:30 h. começou a ventar de rajada e lá se foi o sossego. O Lampejo serpenteava de um lado para outro e começou a 'garrar'. Eu monitorava tudo e era visível que me aproximava da praia do presídio. Em pouco tempo, 0,1 milha já havia sido percorrida. O vento só aumentava.... Comecei a ficar preocupado de fato, então me preparei para o pior. Deixei a Genoa pronta para ser aberta e sair velejando, coloquei meu segundo ferro na proa, pronto para ser jogado ao mar e finalmente liguei o motor no Neutro.
Como o arrasto persistia, resolvi engatar a marcha devagarinho e saindo num rumo diferente da onde vinha a âncora, desengatei, corri na proa, cacei todo cabo de amarra até chegar na corrente. Amarrei no cunho, voltei ao cockít e dei motor avante de novo, arrastando a âncora para mais longe possível. Só sei que andei bastante, mas percorri pouco, voltando a ficar a 0,2 milhas náuticas da praia. E monitorei até voltar de novo prá perto da praia. Repeti a operação, só que dessa vez fui mais longe ainda, soltei o ferro, dei ré, unhou bem e só aí longe da praia me senti seguro, mas não dormi nada, pois o vento SW roncava sem parar, só dando uma trégua pela manhã.
O Lampejo se comportou muito bem, com tudo funcionando a contento, e pela manhã, fiz café, relaxei um pouco prá noite tensa e em seguida, me dirigi ao Flamengo onde iria esperar o pessoal da mecânica me chamar.
Zarpei cedinho, aproveitando a calmaria e fui ao Flamengo onde peguei uma poita emprestada por alguns momentos. Logo o Juliano entrou em contato e lá fomos nós até a Marina Timoneiro, onde primeiro nos colocaram numa poita, mas perto do lindo veleiro São Joaquim, disse que iria batee e então nos trocaram para outra poita onde o serviço foi executado.
Barco na poita, veio o Juliano e começou a revisão, trocando diversos ítens e principalmente a conexão em PVC que recebia água da rabeta e trabalhava sob intensa pressão e temperatura. A peça que já estava quebrada dentro da mangueira, pode afundar o barco, bastando que aconteça durante a noite a quebra e a água do mar invadiria o casco.
A revisão foi executada em dois dias, segunda e terça, com filtro Racor trocado, filtro de água salgada trocado, bomba d'água, rotor, rolamento trocados, correias do motor de arranque e do rotor trocados, reaperto geral, mangueiras trocadas, entre outros.
O pernoite na poita foi tranquilo, embora o mar estivesse ruim com bastante vento.
Na quarta feira cedo, após breve café da manhã e um papo de popa agradável com o Ortega que passou por lá, decidi zarpar rumo Itaguá, com mar liso e sem vento. Yanmar funcionando a contento, lá fui eu com mestra em cima, devagarinho me afastando, passando o boqueirão, passando Ilha Anchieta, Cabras e fui indo a 4 nós de média, chegando no Itaguá após pouco menos de 3 horas de travessia.
E, num lampejo voltaremos!!!